terça-feira, 17 de abril de 2012

Evangelização: o que não fazer e o que fazer?

Imagem daqui

Este ano de 2012, ano da evangelização e da fé, leremos Atos dos Apóstolos. Para a Igreja, é um texto fundamental e normativo: relata a fé e a evangelização da primeira comunidade cristã.

O livro não fala de Jesus, mas sim de nós, seus discípulos, com projetos que nem sempre são de Deus, são com freqüência humanos, muito humanos; mais ainda, de Satanás, como diz Jesus a Pedro, nosso representante (Mc 8, 33). Por isso os Atos dos Apóstolos falam primeiro do que não fazer e depois do que fazer.

Primeiro: o que não fazer? Neste ano de graça, não se perder em cálculos e estratégias de poder! O Reino não vem da espada de Pedro. Seu ridículo gesto no Getsêmani profetiza o que fazemos sempre que podemos. Mas o poder mundano só corta orelhas e não nos deixa escutar a Palavra. O sinal de ataque para as doze legiões de anjos termina sempre em vergonha e fuga (Mateus 26, 51ss). Por isso Jesus nos pede para que não nos afastemos de Jerusalém, lugar da cruz. Não devemos procurar vitórias nem sonhar improváveis “Emaús” (Lucas 24, 13ss; cf. 1 Mac 4, 1ss). No Calvário vemos a única “teoria” vencedora: Deus se mostra cara a cara, amor mais forte que a morte (Lucas 23, 40-48). Sentimos quanto somos amados e recebemos o espírito de Deus. Fora dali bebemos outro espírito.

Segundo: o que fazer? Aqui me permito contar um segredo, tão óbvio como esquecido: a evangelização é feita escutando o evangelho e assimilando-o até tornar-se carne de nossa carne. A Palavra, encarnada em Jesus, torna-se Palavra no Evangelho para encarnar-se em nós. O homem chega a ser o que escuta!

O cristianismo não é uma ideologia com respeitáveis prescrições e proibições. É uma história concreta: a do Filho que se faz irmão de todos para revelar o amor do Pai. Nossa fé é amar esse Deus crucificado por blasfemia pelos religiosos e poderosos, esse Deus livre e liberador que nunca ninguém viu e que a carne de Jesus nos mostrou. Esta fé vem de escutar a Palavra, testemunhada primeiro com a vida e relatada depois com as palavras do próprio Evangelho. Este desola o que somos: somos filhos se continuamos fazendo e ensinando o que o Filho “começou a fazer e a ensinar”, como está escrito no “primeiro livro” (At 1,1), ou seja, no Evangelho.

É cristão aquele que vive no estilo de Jesus. Isto não é privilégio de poucos devotos: é um dom para todos. Jesus não construiu um recinto para reunir os bons. Rompeu cercos e instituições sagradas para abrir-nos para a nossa verdade: todo homem é irmão do outro. Somente assim Deus é Pai de todos e o Filho todo em todos.

A Igreja nasce da resposta de Jesus à última pergunta dos discípulos: “É agora que vais restabelecer o reino de Israel?” (At 1, 6). Eles desejam, como nós, uma revanche da derrota do Mestre. Ainda não sabem que sua vitória é a cruz. O reino de Deus não é poder que domina, senão amor que serve a todos. O reino de Deus é o oposto ao nosso (cf. Lucas 22, 24-27; Jo 9, 8-15): libera-nos das falsas imagens de Deus e do homem.

Sua “carta magna” começa assim: “Felizes vocês, os pobres, porque é de vocês o reino de Deus” (Lucas 6, 21-26). As Bem-aventuranças condensam o Evangelho; constituem o autorretrato de Jesus. É o Reino de Deus, que antes estava “no meio de nós” (Lc 17, 21). Agora estará “em nós” com a força de seu Espírito que nos faz filhos, enviados do Pai a todos os irmãos, nenhum excluído. A evangelização nos leva com Maria ao pé da cruz (cf. Gal 3, 1). Ali, uma vez embriagados pelo vinho novo, “não podemos calar o que vimos e ouvimos”. E somos movidos a dar testemunho “ até os confins da terra” (At 4, 20; 1,8).

- Silvano Fausti
Fonte: Mirada Global, reproduzido via Amai-vos

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