sexta-feira, 30 de março de 2012

“A ciência é um dos melhores modos para se conhecer a Deus”


“A ciência é um dos melhores modos para se conhecer a Deus”, defende, no convênio sobre o tema “Viver a fé católica”, promovido pela arquidiocese norte-americana de Denver, o padre Guy Consolmagno, astrônomo do Observatório Vaticano. Estudar cientificamente o universo ajuda a entender melhor “a pessoa de Cristo”. O religioso e cientista ítalo-americano, que há mais de 30 anos estuda os asteroides e os cometas (um asteroide foi batizado com o seu nome), não exclui a possibilidade de que haja outra vida inteligente no universo.

Mas o ET não faz a fé entrar em crise: “O que aprendemos não anula o que já sabemos. Se um dia descobrirmos que não estamos sozinhos no universo, tudo aquilo em que cremos não é que seja incorreto, pelo contrário, nos daremos conta de que é mais verdadeiro, de modos e formas que nunca pudemos imaginar”. Para confirmar tudo isso, o padre Consolmagno cita o Evangelho de São João: “No princípio era o Verbo, isto é, Jesus, a segunda pessoa da Trindade. O Verbo é a salvação, a encarnação de Deus no universo. Segundo o Evangelho, o Verbo existia antes do universo. O único ponto no espaço-tempo que é o mesmo em todas as linhas temporais. Este é o modo como a salvação acontece, e aqui se manifestou na pessoa de Jesus Cristo”. Antes da criação do universo, Cristo já existia; e, portanto, abraçava, não apenas a nós e a terra, mas a outros hipotéticos seres.

“O ateísmo moderno tende a considerar Deus simplesmente como uma força que “enche os vazios” em nossa compreensão do universo” – observa o jesuíta nascido em Detroit em 1952. “Mas usar Deus para encher os vazios de nosso conhecimento é teologicamente enganoso, já que minimiza Deus e o reduz a outra força dentro do universo em vez de reconhecê-lo como fonte de criação. Aqueles que crêem em Deus não deveriam temer a ciência, mas deveriam considerar a ciência como uma oportunidade que Deus deu à humanidade para que o conheça melhor”. A fé e a razão são como que as duas asas com as quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade. É Deus quem colocou no coração do homem o desejo de conhecer a verdade e, em definitiva, de conhecê-lo a Ele próprio, para que, conhecendo-o e amando-o, possa alcançar também a plena verdade sobre si mesmo. O padre Guy Consolmagno precisa que acredita em Deus “não porque Ele seja o final de uma cadeia lógica de cálculos, mas porque experimentou que a física e a lógica podem mostrar-me a beleza, a razão e o amor, mas não explicá-los”. Além disso, a fundamental diferença entre o jesuíta e o cientista ateu Stephen Hawking é que ele reconhece que Deus não é outra parte do universo que explica o inexplicável, mas o “Logos”, a “Razão” mesma.

As outras religiões ou filosofias podem dar-nos uma visão racional do universo, mas “apenas o Evangelho pode nos dizer que a razão mesma se materializa entre nós na forma de Jesus Cristo”. “Tomás de Aquino fala de numerosos mundos”. A encarnação, segundo o Evangelho, aconteceu aqui; mas poderia valer também em qualquer outro lugar. “A Bíblia é a ciência divina, um trabalho sobre Deus” – precisa o padre Consolmagno. “Não é necessário que seja ciência física” e explique como o universo foi construído. Mas um universo sem limites “poderia incluir outros planetas com outros seres criados pelo mesmo Deus de amor. A ideia da existência de outras raças e outras inteligências não é contrária ao pensamento tradicional cristão. Não há nada nas Sagradas Escrituras que possa confirmar ou contradizer a possibilidade de vida inteligente em outras partes do universo”. Nosso conhecimento não é completo; e é uma loucura “subestimar a capacidade de Deus para criar com uma profundidade de modos que nós não entenderemos nunca completamente”. E, portanto, seria da mesma maneira arriscado pensar que “entendemos a Deus completamente”, limitando sua ação ao planeta Terra, e aos outros seres humanos. Observar os asteroides, os meteoritos e os corpos celestes “é uma das coisas que me aproximam de Deus”. Santo Tomás, “que sempre foi proposto pela Igreja como mestre do pensamento e modelo do reto modo de fazer teologia”, reconhece que a natureza, objeto precisamente da filosofia, pode contribuir para entender a revelação divina.

A fé, portanto, não tem medo da razão, mas que a busca e confia nela. Assim como a graça supõe a natureza e a leva a término, do mesmo modo a fé supõe e aperfeiçoa a razão. Esta última, iluminada pela fé, se libera da fragilidade e dos limites derivados da desobediência do pecado e encontra a força necessária para elevar-se ao conhecimento do mistério de Deus Uno e Trino. Já João Paulo II, na encíclica Fides et Ratio, de 1998, advertia que “muitos arrastam sua vida até quase a borda do abismo, sem saber o que vão encontrar”.

A filosofia, que tem a grande responsabilidade na formação do pensamento e da cultura através do “apelo permanente à busca do verdadeiro”, tem que recuperar com força sua vocação original. Portanto, não há motivo para que exista “nenhuma competitividade entre a razão e a fé: uma está dentro da outra, e cada uma delas tem seu próprio espaço de realização”. Assim que, “a fé pede que seu objeto seja compreendido com a ajuda da razão; a razão, no auge de sua busca, admite que é necessário aquilo que a fé apresenta”. Crer na possibilidade de conhecer a verdade universalmente válida não é, em hipótese alguma, fonte de intolerância; pelo contrário, é condição necessária para um sincero e autêntico diálogo entre as pessoas. E os cientistas, com sua pesquisa, “nos dão um crescente conhecimento do universo em seu conjunto e da variedade incrivelmente rica de seus componentes, animados e inanimados, e das complicadas estruturas atômicas e moleculares”.

Giacomo Galeazzi para o Vatican Insider, 20-03-2012. 
Tradução do Cepat, aqui reproduzida via IHU.


Leia também:  Entre Deus e o Big Bang está o astrônomo do papa

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